Não basta desejo, é preciso estudo!
Estamos vivendo um período difícil e espinhoso de transição a respeito da assistência Obstétrica no país. Tentando sair de um modelo tecnocrata (estadista ou alto funcionário que busca apenas soluções técnicas ou racionais para os problemas, sem levar em conta aspectos humanos e sociais) e centrado na doença, e na figura do profissional de saúde para um modelo que respeite a fisiologia e entenda que parir é natural como respirar, andar ou se alimentar.
Algumas pesquisas vêm mostrando que até 80% das gestantes no início de suas gravidezes desejam parto normal, mas cerca de apenas 20% acabam conseguindo.
Mulheres precisam novamente se apoderar do conhecimento de suas sensações! Reaprender a paciência, a espera e a entender os sinais que seu corpo dá. Para isso, estudo! Pois, estamos vivendo um paradigma no qual a maioria das mulheres atuais não viveram o parto e seus sinais! Nos últimos 30 anos vivemos os pós-operatórios das cesarianas, ou seja, a maioria das dicas são do tipo “como ter um pós-operatório menos doloroso”, “qual a cinta para melhorar o inchaço “. São todas dicas válidas, pois uma cesaria bem indicada salva vidas. Mas deveríamos estar compartilhando e ouvindo mais informações como: “como trabalhar meu corpo e quais sensações terei durante o parto?”, “preciso mesmo de analgesia durante as contrações?”, “como saber se meu bebê está bem durante o trabalho de parto?”, “como amamentar sem dor?”.
Estamos abandonando o fisiológico e focando na doença! Prestamos mais atenção na dor do que na sensação do bebê descendo, nos alarmamos com o rompimento da bolsa das águas e esquecemos de sentir o bebê mexer e manter a calma até ir ao hospital ou comunicar ao profissional mais próximo
Devemos sim saber os sinais de alerta, ter um contato mais próximo com profissionais de saúde e saber a quem recorrer numa emergência. Mas precisamos lembrar que cerca de 80% das gravidezes são normais, de risco habitual, precisam de cuidados, mas não há doenças, ou seja, mulheres estudem! Leiam sobre sinais de trabalho de parto, o que seu corpo vai sentir, como amenizar desconfortos durante a jornada, quanto tempo durará o trabalho de parto em média, como saber que seu bebê está bem e assim, sabendo melhor o que seu corpo passará, vocês poderão diminuir os medos e aumentar a confiança em vocês mesmas. Sempre procurem fontes seguras de informação, rodas de mulheres ou profissionais ligados ao parto fisiológico. Mesmo que seja uma gestação de risco aprenda como seu corpo trabalha e siga as orientações profissionais. Estudem muito do mesmo jeito!
O exercício da autonomia é antes de tudo o exercício do aprendizado e estudo. Tire suas dúvidas durante o pré-natal, se informe sobre o hospital escolhido para parto.
Como me disse uma amiga: “estudamos até para comprar um carro, porque pra parir tem que ser diferente?”.